Continuamos o trabalho do Bruno e do Dom na Amazônia porque o nosso futuro está em jogo/depende disso.

Por Laurent Richard
Fundador e diretor do consórcio jornalístico Forbidden Stories
Tempo de leitura: 2m

O PROJETO BRUNO E DOM | 1 de junho de 2023

Essa história precisa ser contada.” Em 26 de junho de 2022, 11 dias após a descoberta dos corpos de Bruno Pereira e Dom Phillips, câmeras de todo o mundo captaram a revolta de Sian Phillips, irmã do jornalista britânico assassinado, durante seu funeral. Cercada por parentes, todos de camisetas pretas estampadas com uma foto de Dom em meio a mata densa, ela explicou que seu irmão foi morto por “tentar contar o que está acontecendo com a floresta“.

Investigar crimes ambientais se tornou um dos temas mais perigosos para jornalistas cobrirem nos últimos anos. Segundo a Repórteres Sem Fronteiras (RSF), aproximadamente dois jornalistas são mortos por ano devido ao seu trabalho sobre desmatamento, mineração ilegal, grilagem de terras, poluição e outros temas relacionados ao impacto das atividades industriais. Os ambientalistas também são alvos frequentes. De acordo com um relatório da Global Witness, 1.700 ativistas ambientais foram mortos entre 2010 e 2020.

Dom Phillips era, entretanto, um dos repórteres mais experientes, tendo coberto a Amazônia por mais de 15 anos. Bruno Pereira, especialista em comunidades indígenas, também conhecia esse terreno melhor do que ninguém. Os dois partiram em uma missão juntos no Vale do Javari, onde traficantes de madeira, de drogas e de peixes transformaram o local em um polo de contrabando criminoso.

No entanto, os assassinos de Bruno e Dom não impedirão que a opinião pública descubra o que eles tanto tentam esconder. Durante um ano, sob a coordenação da Forbidden Stories, mais de 50 jornais de 16 organizações de imprensa continuaram o trabalho das duas vítimas, para que seu trabalho não fosse silenciado, como eles foram. Bruno e Dom morreram por tentar nos informar sobre os crimes daqueles que sufocam o “pulmão” do nosso planeta.

E os temas trabalhados pelos dois estão mais próximos do seu quotidiano do que você imagina. O apetite global por carne bovina, por exemplo, está acelerando a catástrofe, com cerca de dois terços do desmatamento na Amazônia sendo causado pela pecuária.

Em 2019, já havíamos coordenado o Projeto Sangue Verde, com trinta veículos de comunicação dando continuidade às investigações de jornalistas indianos, guatemaltecos e tanzanianos sobre os danos ambientais causados pela indústria de mineração. Traçando as várias cadeias de suprimentos, nossos repórteres puderam rastrear as ações de dezenas de multinacionais, e terminaram chegando no coração do Vale do Silício, na Califórnia.

Sem jornalistas em campo, ninguém saberá o que está por trás das publicidades de industrialistas, promovendo campanhas ecológicas, uma mais verde do que a outra. Além do forte impacto que as mudanças climáticas produzem nas populações mais vulneráveis, assim como nos jornalistas e ambientalistas que tentam protegê-las e divulgá-las. No entanto, é um direito da imprensa, proclamada oficialmente em 1992 no Rio de Janeiro sob a égide das Nações Unidas durante a “Earth Summit”, o poder de questionar as empresas poluidoras e os tomadores de decisões políticas que se omitem, à moda de Não Olhe para Cima.

Sem acesso a informações independentes, ninguém salvará o planeta.